Vietnã: a guerra famosa que ninguém conhece

A guerra do vietnã foi uma das maiores atrocidades já cometidas pela humanidade. Pelos dois lados, tanto pelos americanos quanto pelos vietnameses. Milhões de mortos, bilhões de dólares gastos e dois países traumatizados. A guerra que eclodiu no começo dos anos 60, é um dos conflitos armados mais famosos da história, mas pouca gente conhece o porquê a guerra escalou a aquele nível e seus motivos, tornando a guerra do vietnã em a famosa guerra que ninguém conhece.

A dica cultural de hoje é o documentário-série, A Guerra do Vietnã de Ken Burns e Lyon Novick, disponível na Netflix. São 10 episódios, extremamente bem produzidos e com uma profundidade sem igual.

“A Guerra do Vietnã” começa em sentido inverso: as imagens estão em retrocesso, como se tudo aquilo estivesse sendo rebobinado. Depois de uma breve introdução, há uma sequência de filmagens familiares, retrocedendo. Napalm é sugado para fora da selva. Bombas caem. Um prisioneiro ganha vida quando uma bala explode sua cabeça.

A sequência parece uma declaração de missão para Ken Burns e o documentário plangente, enciclopédico, e às vezes cansativo, de Lynn Novick. Sim, você já viu essas imagens antes. Mas, para ter uma chance de entender essa bagunça, você precisa voltar no tempo, bem atrás.

A história

O foco é histórico. Uma tentativa de ir a fundo na forma que todos os envolvidos pensavam o conflito e seus motivos, passando por gravações telefônicas dos Presidentes Kennedy e Johnson, com seu secretário de defesa Robert McNamara, relatórios de inteligência e entrevistas com aqueles que os escreveram naquela época.

O mais chocante, além das imagens, é de fato as entrevistas de pessoas que estavam lá. Burns e Novick, conseguiram uma seleção de entrevistas incríveis com soldados, conselheiros do exército americano, oficiais do governo Vietnamita (tanto do Sul quanto do Norte) e de guerrilheiros e oficiais do exército do Norte.

Esses relatos mostram como a guerra deu errado. Os soldados americanos simplesmente não acreditavam no objetivo dessa guerra. Ao contrário da segunda guerra mundial, onde existia uma poderosa narrativa de o bem contra o mal que impulsionava a moral das tropas, agora não. O objetivo era unificar um país, que não era sequer o deles. Ao mesmo tempo que a moral dos Vietcongues estava lá em cima, e só ganhavam força, conforme eles avançavam contra tropas americanas e obtiam sucesso.

O documentário é chocante, não é aquele seriado que você pode assistir antes de dormir, apenas para relaxar. O documentário não oferece nenhuma elevação ou final feliz. São simplesmente décadas de má decisões após má decisões, um vórtice que sugou vidas por nada. Foi, diz o narrador Peter Coyote, “iniciado de boa-fé por pessoas decentes de mal-entendidos fatídicos, excessos de confiança americanos e erros de cálculo da Guerra Fria.”

A beleza das entrevistas, e do documentário, é que elas transformam os filmes em uma história em primeira pessoa, onde os relatos vão se tornando a linha mestra por onde a história é contada.

É impossível não se emocionar com a história do soldado Moogie, que é contada pela sua mãe e sua irmã. Um garoto de 17 anos que se alistou com a autorização dos pais, pois era menor de idade, acreditando que era sua vez de lutar por seu país e infelizmente, morreu em combate.

A história de Moogie nos faz pensar quantos milhares de Moogies não morreram em combate.

O final é o mesmo da vida real: uma guerra onde os Estados Unidos não conseguiam mais ver o fim e se debandou em retirada, o movimento que eles deveriam ter feitos nos anos iniciais da guerra.

O seriado é brilhante, mais uma vez. Cada episódio tem em média uma hora meia. Se você tem o mínimo de curiosidade por história e política, com certeza ficará vidrado assistindo. E às vezes até mesmo revoltado com tudo aquilo.