Mercados por TradingView
Em fevereiro (dia 7), o BC havia afirmado: “o cenário básico para a inflação tem evoluído, em boa medida, conforme o esperado”. Hoje, dia 21 de março, o BC alterou esta avaliação, e reconhece que “o cenário básico para a inflação evoluiu de forma mais benigna que o esperado nesse início de ano”. Esta foi uma mudança importante: o BC – e a maioria dos investidores, diga-se de passagem – foi surpreendido por uma inflação mais baixa neste início de 2018. Para quem tiver dúvidas, basta comparar as projeções de inflação, do Relatório de Inflação de dezembro/2017, com aquilo que foi, de fato, observado até aqui.
Neste contexto, “a evolução do cenário básico tornou adequada a redução da taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual nesta reunião”. Isto é uma mudança relevante frente àquilo que disse no início de fevereiro, quando afirmou que era “mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”. Esta mudança foi, aos poucos, precificada pelo mercado, e não foi uma surpresa o BC levar a Selic de 6,75% para 6,50%.
Aqui, certamente, a “grande” surpresa de hoje: o BC deve a levar a Selic para 6,25%. Ou seja: mais 1 corte de 25 pontos base vem por aí. Tal sinalização foi bastante clara: “Para a próxima reunião, o Comitê vê, neste momento, como apropriada uma flexibilização monetária moderada adicional”. Para quem esperava uma “porta praticamente fechada” para novos cortes, a comunicação do BC chamou a atenção. A porta ficou escancarada.
Afinal, segundo a instituição, um corte adicional “mitiga o risco de postergação da convergência da inflação rumo às metas”. Dito de outra forma: o BC acredita que juros mais baixos, hoje, podem evitar que a inflação continue, de forma prolongada, abaixo do centro da meta de inflação. Vale lembrar: o BC persegue o centro da meta, embora oscilações abaixo e acima deste valor sejam “aceitáveis” (considerando as bandas de 1,5 p.p. em torno do centro).
O BC projeta¹ hoje um IPCA “em torno de 3,8% para 2018 e de 4,1% para 2019”. Estes números estão abaixo do centro das metas oficiais: 4,50% e 4,25%, respectivamente. Vale comparar: em fevereiro, o BC projetava para estes anos uma inflação “ao redor de 4,2%”.
Começamos pelo risco de a inflação ficar abaixo das projeções do BC. Neste caso, temos a “inércia” – mecanismo através do qual uma inflação baixa “hoje” é capaz de manter uma inflação baixa “amanhã”, e vice-versa. Do lado contrário, o BC destaca a “frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira”. Isto seria capaz de elevar os “prêmios de risco” (risco país, taxa de câmbio, etc.). Isto seria intensificado caso o cenário externo fosse revertido, por exemplo. Vale notar: ao contrário de fevereiro, já não destaca o risco de a inflação ficar baixa por conta de “possíveis efeitos secundários do choque favorável nos preços de alimentos e da inflação de bens industriais em níveis correntes baixos”.
Não. O BC continuará a avaliar o cenário. E fez um disclaimer clássico: “Essa visão para a próxima reunião pode se alterar e levar à interrupção do processo de flexibilização monetária, no caso dessa mitigação se mostrar desnecessária”. Ou seja: a Selic ir para 6,25% é o cenário mais provável neste momento, mas não deveria ser dado como uma certeza. De qualquer forma, será preciso alguma surpresa significativa, em nossa opinião, para que isto não aconteça.
Para reuniões além da próxima (ou seja, a partir da reunião do Copom dos dias 19 e 20 de junho), “salvo mudanças adicionais relevantes no cenário básico e no balanço de riscos para a inflação, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária, visando avaliar os próximos passos, tendo em vista o horizonte relevante naquele momento”.
Ou seja: o cenário-base é a Selic continuar em 6,25%. Mas vale notar: não é impossível que a Selic volte a recuar. Em nossa opinião, a probabilidade disto é baixa (talvez uns 20%, para tentar dar uma ordem de grandeza a tal possibilidade). Já vimos que a inflação corrente, e o risco desta contaminar as expectativas de inflação, é algo que pode continuar a fazer o BC repensar os seus passos. Portanto, será importante continuarmos a monitorar as projeções de inflação para o final de 2018 e, com especial ênfase, para 2019 — período que começará a ganhar importância na análise.
Sim. O BC manteve a avaliação de que “a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa”. Ou seja, “taxas de juros abaixo da taxa estrutural”, hoje entre 4,5-5,5%, em nossa opinião. Aliás, dados recentes de atividade, ligeiramente abaixo do esperado, reforçaram tal avaliação do BC, neste início de 2018.
Acreditamos que haverá uma normalização de juros, num futuro não muito distante. Afinal, a economia deve continuar em recuperação, e a inflação deve caminhar para o centro da meta. Com o passar do tempo, o “horizonte relevante da política monetária” passa a ser mais o de 2019, e menos o de 2018. Neste contexto, o nosso cenário-base contempla uma elevação gradual da Selic já no 1º semestre do próximo ano, indo rumo a um patamar entre 8-9% no final de 2019.
Vale notar: quanto mais cair a Selic no curto prazo, o “período prolongado” de juros baixos pode ser encurtado, em nossa opinião. Ou seja: até então, era crescente a nossa expectativa sobre uma “normalização” — ou seja, sobre uma alta gradual — da Selic apenas no final do 1º semestre de 2019. Agora, com novos cortes de juros e a possibilidade de a Selic cair ainda mais, este cenário perde um pouco de forças. Dito de outra forma: começa ser mais provável que o BC inicie a “normalização” da Selic já no início de 2019.
1 Considerando o cenário com taxas de juros e câmbio extraídas do Boletim Focus. Para a Selic, hoje considera-se 6,50% para o final de 2018 e 8,00% para o final de 2019; em fevereiro, considerava-se uma Selic de 6,75% para o final de 2018 e 8,00% para o final de 2019. As taxas de câmbio são praticamente as mesmas: R$3,30 para 2018; em fevereiro, considerava-se R$3,40 para 2019; hoje, considera-se R$3,39 para 2019;
2 Todas as citações do BC, contidas neste texto, foram retiradas dos 2 últimos comunicados do Copom (dia 7 de fevereiro e dia 16 de março).