CabeçalhoConteúdoNewsletterRodapé

Mercados por TradingView

Uma nova realidade (americana), mais desafiadora

24 de maio de 2018
Escrito por Ignacio Crespo
Tempo de leitura: 4 min
Compartilhar

No início de fevereiro, falamos da nova realidade americana. Uma economia que ainda dava sinais de aquecimento no curto prazo e, com isso, reforçaria a perspectiva inflacionária. Isto, é claro, acabaria pressionando o Banco Central (o Fed) a elevar os juros nos próximos meses, e o mercado, até então bastante cético, acabaria se convencendo disto. Fazemos aqui uma breve retrospectiva. O que podemos esperar à frente?

Num momento de cautela no exterior – bolsas próximas do zero a zero em 2018, volatilidade em alta e riscos geopolíticos da Ásia à Europa –, investidores estão mais convencidos sobre o plano de voo do Fed. Os fundamentos ainda seguem “sólidos”, e vemos, a despeito das turbulências recentes, um quadro ainda positivo para o crescimento global. Mas vale notar: estamos observando uma “reprecificação” de cenário substancial, saindo de um ambiente global de crescimento em aceleração e inflação baixa para um ambiente de crescimento ainda positivo, mas inflação em elevação. Isto trouxe repercussões nos mercados evidentes.

Há quase 4 meses, escrevi um texto falando destas tendências. Naquele momento, a inflação ao consumir nos EUA era 2,1%. Hoje está em 2,5%. O “núcleo” da inflação – medida menos volátil, por desconsiderar preços de alimentos e energia – passou de 1,8% para 2,1%. O deflator do consumo* (índice PCE, na sigla em inglês) passou de 1,7% para 2,0%. Da mesma forma, o “núcleo” deste índice passou de 1,5% para 1,9%, aproximando-se da meta de inflação do Fed, de 2,0%. Isto ficou em linha com aquilo que esperávamos. 

Neste contexto, a probabilidade de 3 elevações de juros (ou mais) em 2018 passou de aproximados 55% para 90%. Ou seja: o mercado, que era cético até há pouco (as apostas estavam completamente divididas), já precifica muito melhor o cenário. Foi uma mudança expressiva, num curto espaço de tempo, que contribuiu para a valorização do dólar mundo afora.

À frente, ainda vemos uma perspectiva inflacionária nos EUA. O desemprego caiu de 4,1% para 3,9%, o ritmo de criação de empregos acelerou**, e o “problema” de encontrar mão de obra qualificada segue em alta***, considerando pequenas e médias empresas. Ou seja: continuamos vendo uma tendência altista para os salários, pressionado a inflação para cima num 2º momento. Não é por acaso que economistas como Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia (EUA), acreditam que o Fed pode elevar os juros 5 vezes ainda em 2018.

No texto do início de fevereiro, deixávamos também claro que enxergávamos um upside mais interessante em bolsas de Europa (Stoxx 600) e Japão (Nikkei) vis-a-vis EUA (S&P 500). A seguir, o desempenho acumulado até aqui, em moedas locais. Embora no médio prazo ainda acreditemos neste cenário, vemos no curtíssimo prazo alguma dificuldade adicional para os ativos de Europa – a região vem apresentando dificuldade em acelerar o crescimento neste 2º trimestre do ano e há um risco político na Itália de difícil resolução imediata. 

Por último, volto a dar ênfase ao relatório mensal feito com pequenas empresas*** americanas. Afinal, o problema de “conseguir mão de obra qualificada” tem sido crescente e, no mês de março, já se ultrapassou a preocupação das empresas com relação ao pagamento de impostos – algo que prevíamos há alguns meses, diante da aprovação da reforma tributária no final de 2017 e um mercado de trabalho cada vez mais aquecido.

Embora o cenário de normalização de juros nos EUA já esteja muito melhor precificado do que 4 meses atrás, ainda vemos um dólar forte ao redor do mundo, especialmente frente aos países emergentes, nos próximos meses. A tendência de inflação em elevação nos EUA persiste. Aliás, quando o índice de preços* ultrapassar a meta do Fed, é possível que vejamos alguma turbulência adicional nas bolsas internacionais. Crescerá a interpretação de que o Fed está “atrasado” no ciclo de normalização de juros, em nossa opinião. E isto tende a ser reforçado diante de dados econômicos que ainda surpreendem aos analistas. Embora não necessariamente verdadeira, é uma interpretação, que pode ganhar adeptos no curto prazo, demandará maior cautela dos investidores. Parece-nos evidente que a volatilidade seguirá elevada em comparação com 2017. Neste ambiente, mantemos uma perspectiva mais neutra para ativos de risco no curtíssimo prazo – posicionamento que tem sido traduzida em nossas recomendações de alocação de recursos nos últimos 2 meses. Concordamos com o nosso Banco Central****: “o cenário externo tornou-se mais desafiador”.

Referências:

*Medida que o Fed mais considera quando decide sobre a política monetária;

**Média móvel de 3 meses passou de 189 mil em janeiro de 2018 para 208 mil em abril;

***Considerando pesquisa mensal (NFIB). Última divulgação referente ao mês de março de 2018;

****Ata da última reunião do Copom (dias 15 e 16 de maio).

[IN-CONTENT] ABRA SUA CONTA [NOVO] - NORMAL - END
Compartilhar artigo

Baixe agora o E-book Como declarar investimentos no Imposto de Renda 2024?

Enviando...

Veja também

Fique por dentro

Assine a nossa newsletter semanal

e não perca nenhuma novidade do nosso portal gratuito e da área de assinante com conteúdo exclusivo!

/ Enviando...