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Quando ouvimos Coréia do Norte, logo nos vem à cabeça um país paupérrimo comandado por um ditador, no mínimo amalucado, e a Coréia Irmã, uma simetria que ao longo dos anos virou um dos maiores casos de assimetria em termos de desenvolvimento econômico. Duas Coréias e o mesmo povo, mas destinos completamente divergentes. É possível que a Coréia do Norte um dia se engaje na rota da riqueza, como sua irmã (quase gêmea) do Sul? Sim, é possível e pode ser que o próprio Kim Jong-Un seja a faísca ignitora dessa marcha rumo ao progresso.
O grande problema em economia é fazer experimentos. Não podemos nos dar ao luxo dos físicos, químicos e biólogos que conseguem isolar seus objetos de estudos e observam os fatos, mas os economistas podem contar com os rumos da história como um grande experimento natural. Vide o caso das Coréias, que fornece evidências claras do que acontece quando um país engaja em reformas de mercado, revolução educacional e abertura econômica, enquanto outro país se fecha como um tatu bola assustado.
O experimento das Coréias é poderosíssimo, pois ambos os países são praticamente o mesmo território, com o mesmo povo e geografia bem parecida (inclusive a do Norte é melhor, pois possui mais recursos naturais, como carvão).
Mas e se a Coréia do Norte se engajar em um movimento de abertura controlada, tudo controlado pelo ditador, que agora poderia se dizer reformista? Vamos na história de algum país dito comunista que era fechado e muito, mas muito pobre e que no final acabou por fazer reformas pró-mercado, mesmo sendo comandado de forma ditatorial. O exemplo comparativo que mais se assemelha a atual Coréia do Norte seria o Vietnam.
A Coréia do Norte hoje se parece, e muito, com a nação do Sudeste Asiático em 1986, quando seu vizinho comunista empreendeu reformas “Doi Moi” em direção ao capitalismo. A Coréia do Norte pode ter uma vantagem, porque é mais rica e industrializada do que era o Vietnam em 86, como mostra o gráfico abaixo:
O Vietnam é hoje um enorme centro manufatureiro, com uma economia seis vezes maior que a da Coréia do Norte. No ano passado, ela cresceu 6,8%, o ritmo mais rápido em uma década, graças, em grande parte, às empresas sul-coreanas. A Samsung é a maior investidora estrangeira do Vietnam, respondendo por cerca de um quarto de sua receita total de exportação.
No entanto, as empresas sul-coreanas provavelmente se mudariam alegremente. O salário que eles teriam que pagar aos trabalhadores é significativamente menor, com base nos dados salariais do Complexo Industrial de Kaesong (onde fábricas do Sul empregavam trabalhadores do Norte) da Coréia do Norte, que foi fechado pelo governo de Park Geun-hye (Antecessora do atual presidente da Coreia do Sul) em 2016. Os salários no Norte são 17 vezes menores que aqueles encontrados no Sul, como mostra o próximo gráfico, logo, existe um enorme estímulo para as empresas do Sul se instalaram no Norte, se isso for possível.
O Vietnam ainda tem uma vantagem demográfica. Cerca de 70% da população está em idade de trabalhar contra apenas 44% na Coréia do Norte. E a população, em idade de trabalho da Coréia do Norte, deverá atingir um pico em 2020, em comparação com 2040 no Vietnam.
A combinação das populações das duas Coréias chegaria a cerca de 80 milhões.
Isso é grande o suficiente para tornar a península uma central de produção e consumo autossuficiente.
Portanto, apesar de sempre pensarmos o contrário, existe alguma chance para a Coréia do Norte se desenvolver e os exemplos históricos nos mostram que as condições existem. Tudo dependerá das intenções do “grande líder”.