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Nesta segunda-feira, dia 16 de julho, a economia dos EUA emitiu um sinal importante. A inclinação da curva de juros – a diferença entre os juros de “curto” prazo e os de “longo” prazo – diminuiu e atingiu a mínima dos últimos 10 anos. Em termos técnicos, a “inclinação da curva de juros tem diminuído”. Está ficando mais “flat”. Em termos práticos, e considerando evidências empíricas dos últimos 50 anos, poderíamos dizer que a probabilidade de recessão, nos próximos 12 meses, tem aumentado. Mas será que desta vez é diferente?
A diferença entre os juros dos títulos de 2 e 10 anos chegou a 0,24% nesta semana. Aproxima-se de zero, mantendo tendência dos últimos anos. Se comparada com o patamar do último dia 23 de maio, “uma nova recessão americana”, esta diferença já caiu pela metade. Naquele momento estava em 0,47%. Ou seja: se há 2 meses a luz amarela havia aparecido, de lá, pra cá, não houve motivos para diminuir a cautela. Pelo contrário. Embora no curto prazo a economia dos EUA continue bastante aquecida, não podemos menosprezar os riscos de uma recessão num futuro*.
Olhando os próximos 12 meses, a verdade é que não aumentou de forma significativa a probabilidade de uma nova recessão nos EUA, mesmo diante de uma curva de juros mais “flat”. Esta segue oscilando ao redor de 10%, segundo modelos do Fed de NY. Ou seja: a probabilidade de uma recessão segue relativamente baixa. Mas não devemos ser complacentes.
Em meio a dados fortes de atividade – e relatos bastante otimistas sobre a conjuntura atual, nas mais diversas regiões do país, investidores não devem menosprezar a possibilidade de uma inversão de cenário. Aliás, o próprio presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, chamou a atenção para isto, em artigo escrito nesta semana. “Desta vez é diferente. Considero que estas são as 4 palavras mais perigosas em Economia”.
Kashkari talvez seja uma voz dissonante dentro do Fed. Defensor de juros mais baixos por mais tempo, teme que a “normalização” das taxas no curto prazo possa frear a economia, jogando-a numa nova recessão. Vale lembrar: até aqui, o Fed já subiu os juros 2 vezes neste ano. E seu cenário-base inclui outras 2 elevações até o final de 2018. Hoje, os chamados Fed Funds Rate estão entre 1,75-2,00% ao ano. Se o cenário do Fed se concretizar, estes terminarão o ano em 2,25-2,50%.
Segundo Kashkari, “se as expectativas de inflação ou de crescimento real começarem a subir, o Fed sempre pode subir os juros”, sugerindo que, neste momento, não haveria razões para continuar subindo juros. Seria necessário ter mais evidências sobre estas questões para, somente então, continuar com a “normalização”. Aliás, Kashkari rebate argumentos utilizados por vários economistas em seu recente artigo**. Em sua opinião, nada mais arriscado do que ignorar as sinalizações do mercado, após terem antecipado, com razoável assertividade, as últimas recessões por lá.
E agora? A economia dos EUA segue forte, e não há dúvidas quanto a isto no curto prazo. O FMI, por exemplo, manteve a expectativa de crescimento do PIB de 2,9% para 2018 (a mesma de abril). O chamado “hiato do produto” – diferença entre o PIB potencial e o PIB atual – deve continuar a cair nos próximos anos***. Nada indica que uma recessão já está “contratada”, mas não devemos deixar de monitorar este risco. Dizer que “desta vez é diferente” é o 1º passo para que a História se repita.
Referências: