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O sucesso do homem frágil

20 de abril de 2018
Escrito por Victor Candido
Tempo de leitura: 4 min
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Nós, humanos, somos uma espécie animal intrigante. Se fossemos abandonados na natureza, muito provavelmente não iríamos conseguir superar até os desafios mais básicos, como obter comida, construir abrigos ou evitar predadores e morreríamos rapidamente. Sem falar que nossos “filhotes” possuem mobilidade quase nula e cabeças enormes que nem terminaram de se fechar quando nascem. E mesmo com todos esses fatores jogando contra, nós vencemos a natureza no jogo evolutivo e dominamos o mundo. Hoje vou falar sobre o livro The Secret of Our Success.

 

Mas como isso aconteceu? A resposta óbvia que vem na cabeça de todos é: com a nossa inteligência singular no mundo animal. Mas não foi. Nossa inteligência nem é tão singular assim, mas sim a nossa cultura. Ela é a grande responsável pelo nosso sucesso estrondoso como espécie. Humanos são a única espécie com uma cultura exorbitante.

 

Nas mais de 460 páginas de The Secret of Our Success (Princeton University Press – R$89,90), o antropólogo formado em engenharia, Joseph Henrich, nos leva num divertido e cuidadoso ensaio cheio de evidências empíricas que confirmam sua tese principal: Humanos não deram certo pela inteligência individual, e nem são a espécie mais inteligente, porém, foram capazes de criar um super cérebro coletivo, denominado de cultura, que se perpetua de geração em geração. Se não fosse a cultura altamente desenvolvida dos humanos, nós não teríamos vencido os neandertais e produzido tecnologias engenhosas, linguagens sofisticadas e instituições complexas que nos permitiram e permite nos expandir com sucesso em uma ampla gama de ambientes diversos.

 

Apenas para ilustrar a questão da limitada inteligência individual dos humanos, o próximo experimento foi extraído do livro, mostra uma comparação interessante, onde macacos e humanos foram colocados para jogar um teste, que consegue medir alguns tipos de inteligência, como memória de curto prazo, memória de trabalho e a inteligência social (que mede a nossa capacidade de aprender com a experiência de nossos pares). O resultado é incrível, os chimpanzés e o orangotangos tiveram desempenho similar aos humanos em todos os testes, exceto em um, o de inteligência social, onde ganhamos de lavada, como mostra o gráfico abaixo.

 

Em outro teste de inteligência, onde os participantes precisam ver uma sequência de números em uma tela, memorizá-los e depois apertar na tela a mesma sequência de números, agora com suas posições encobertas por quadrados brancos. Esse teste serve para medir a capacidade de memória de trabalho e a velocidade que o indivíduo processa informação, juntas essas duas características são os pilares da inteligência e capacidades de resolução de problemas dependem dessas duas características. Resultado? Os macacos ganharam de lavada. Os humanos tiveram uma taxa de acerto de apenas 30%, enquanto os macacos reinavam absolutos com taxas bem superiores a 50%.

 

Logo, fica claro que o sucesso dos humanos não é fruto de nossa cabeça gigante, mas sim de uma enorme cabeçona coletiva, que pensa sem parar a milhares de anos.

 

Absolutamente tudo no mundo é fruto de um processo de incremento gradual, por exemplo o celular. O primeiro aparelho era enorme e desajeitado e, ao longo das últimas décadas, diversos novos componentes e tecnologias foram sendo incorporados. Milhares de pessoas trabalharam de forma não colaborativa nisso, cada uma em sua área, mas existiam mecanismos institucionais e culturais que permitiram a transmissão e junção desses conhecimentos dispersos em algo concentrado como o celular.

 

Basicamente tudo que a sociedade aprendeu a fazer não veio da mente de apenas uma pessoa brilhante e sim de um coletivo de milhões delas. Basta pensar na quantidade de informação que uma criança de 5 anos já recebe da sociedade e dos seus pais, sem que ela precise raciocinar e construir por si própria essa ideias e convenções.

 

Voltando aos macacos, ele aprende infinitamente menos dos pais e pares do que os humanos. Boa parte de seu conhecimento é construído por experiência própria, o que demora muito mais. E quando o macaco morre, boa parte do conhecimento que ele adquiriu em vida morre com ele, não é perpetuado por mecanismos culturais.

 

Henrich analisa tudo, iniciando no nosso passado evolucionário e passando aos cantos mais remotos do globo. O autor mostra como esse sistema, não-genético de herança cultural, a tempos impulsiona a evolução genética humana. Ao produzir fogo, cozinhar, recipientes de água, conhecimento de rastreamento, conhecimento de plantas, palavras, estratégias de caça e projéteis, a evolução genética orientada pela cultura expandiu nossos cérebros, moldou nossa anatomia e fisiologia e influenciou nossa psicologia, nos tornando a única espécie verdadeiramente cultural no mundo. Somente através da compreensão da evolução cultural podemos entender a evolução humana.

 

O livro é uma delícia para os nerds e curiosos que querem entender esse complexo organismo chamado humanidade, mas infelizmente ainda só existe a versão em inglês. Estaremos torcendo para que a edição em língua portuguesa sai o mais rápido possível.

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