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O Processo: O filme do impeachment/golpe no Brasil

15 de junho de 2018
Escrito por Victor Candido
Tempo de leitura: 4 min
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Dilma ex-presidente do Brasil

Michel Temer está fragilizado e o país ainda mais. Estamos saindo de uma greve praticamente sem precedentes que colocou o país de joelhos, nos deixando completamente paralisados. O Presidente foi incapaz de arbitrar o conflito e se tornou vítima do movimento grevista e, por consequência, a fraca respirada econômica do país se tornou um suspiro. Um Brasil melhor teve que ser adiado para depois das eleições. 

É importante lembrar como Temer, um político habilidoso se tornou um presidente que acabou encurralado, com medo e na mira do Ministério Público. É preciso lembrar como ele foi alçado à condição de homem máximo da República. Apesar de ser recente, o impeachment já parece esquecido nas profundezas do mar de lama que o país se tornou. O documentário O Processo, que nos relembra e nos transporta de volta ao tragicômico processo de impeachment, é a minha dica dessa semana. 

O documentário

O nome é pretensioso, remetendo-se ao livro, homônimo, de Franz Kafka, O Processo, onde um homem é vítima de um processo altamente burocratizado e organizado, que começa do nada, sem explicações, e a acusação baseia-se em um crime não especificado. 

O que obviamente não condiz com a realidade que o Brasil viveu no processo de impeachment. Existia sim um crime de responsabilidade de um governo que distorceu os limites da realidade contábil e que se engajou em perigosas e irresponsáveis políticas econômicas, que trouxeram o país para a lamentável situação em que ele se encontra hoje. Porém, o filme tem seu valor, pois nos revela fatos interessantes e nos faz repensar sobre o trauma que foi tirar uma presidente eleita do cargo e do surrealismo de todo o procedimento.

É importante dizer que o filme passa longe da imparcialidade. Começando pelo nome, é claramente uma sequência de cortes que contam a história do lado esquerdo da narrativa, fato que não desmerece a produção, afinal de contas, em uma história onde existem vencedores e perdedores, onde ambos clamam para si o título de benfeitores, existirão dois cortes antagônicos. É natural e devemos encarar com naturalidade e superar essa dicotomia de ideias políticos.  

O filme não tem narração, logo, toda a história depende da sequência em que as cenas são apresentadas, o que ajuda, em alguns momentos, a reforçar ainda mais o tom parcial do filme. Mais que os cortes de cenas que vimos e revimos, passando pela cômica votação do impeachment na câmara, o que impressiona no filme, e é onde está o valor de assisti-lo, independente da sua ideologia, é o acesso impressionante que a produção teve dos senadores do PT, Gleisi Hoffmann e Lindberg Farias e do advogado de Dilma, Luiz Roberto Barroso. 

O pragmatismo de Gleisi e a calma com que ela planejava a execução da estratégia de defesa é impressionante, um gradiente forte em relação a senadora exaltada que, por vezes, preenchia as sessões da comissão do impeachment no senado. Lindberg se mostra exaltado o tempo todo, numa espécie de missão quixotesca, onde o grito vale mais que o pensamento. Barroso também é um personagem interessante, pensativo e até divertido, um pouco inspirador no ponto em que conseguia servir-se de algum prazer de sua profissão, de advogado, mesmo quando a derrota era iminente. 

Enquanto o lado próximo de Dilma é pintado como uma tropa preparada, coesa, mas que foi vítima do combate injusto, o outro lado é pintado como um bando de pessoas superficiais, compradas e aliadas de Temer e Cunha, que só queriam usurpar a pátria, claramente uma tentativa tosca de criar algum maniqueísmo. O exemplo claro são os cortes da professora Janaína Paschoal, todos, sem exceção, são feitos de forma que ela parece ser a maior idiota do mundo. 

Mas o vilão mor não é Temer, é Cunha. Impossível discordar do fato de que sem ele não teria acontecido o impeachment e também de que ele sim agia por motivos escusos, sujos e que usou da constituição e dos erros do governo Dilma para se vingar do fato de que o PT não lhe apoiou no conselho de ética da câmara, votos que poderiam lhe salvar a pele. 

Vale a pena assistir

O filme começa cheio de empolgação, as imagens são bonitas e bem-feitas, mas depois começa a ficar um tanto quanto repetitivo e batido, os cortes sempre pintam um lado como genial e o outro como mesquinho, o que traz um certo tédio, mas não tira o brilho. 

Mas, vale a pena assistir, não por questões ideológicas, mais uma vez repito, deixe a ideologia em casa, assista como se fosse a primeira vez que você estivesse vendo aquelas imagens pitorescas de deputados votando até pelo poodle da vizinha, de um senador aloprado gritando na comissão, uma presidente perdida em seu destino, um chefe da câmara que mais parece um al capone de quinta categoria. 

E depois de assistir se pergunte se você viu um documentário ou um filme surrealista. E pasme, é o Brasil.

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