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Mercados por TradingView

O olhar de Mario Draghi, e o que isso significa

26 de julho de 2018
Escrito por Ignacio Crespo
Tempo de leitura: 4 min
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Hoje (26/07/2018) era dia da reunião do Banco Central Europeu (o “ECB”, na sigla em inglês). Às 8h45, ficou decidido que os juros na Zona do Euro continuariam inalterados, em níveis extremamente baixos. Às 9h30, investidores estavam atentos à fala de Mario Draghi, o presidente do ECB. Ao todo – considerando a sua fala inicial e a sessão de perguntas e respostas com jornalistas –, o italiano foi o centro das atenções do mercado por aproximados 40 minutos. Quais foram os pontos mais importantes deste evento? O que podemos esperar pela frente? O que significa para o investidor brasileiro?

European Central Bank

Uma breve retrospectiva…

O cenário internacional tem mudado, e nem todos estão muito atentos a isto. Aliás, nem o próprio Draghi. Afinal, mostrou-se hoje surpreso – e um tanto orgulhoso – quando uma jornalista lembrou que cumprem-se 6 anos do seu famoso discurso que, na opinião de muitos, “salvou” o Euro. No dia 26 de julho de 2012, em Londres, Draghi disse que faria “o que fosse necessário” – “whatever it takes”, em inglês – para evitar o pior. O Euro beirava o colapso, e a postura firme do presidente do ECB contribuiu para que a confiança dos investidores fosse recuperada. Naquele ano, o PIB da Zona do Euro contraiu 2,5%. Nos 2 anos seguintes, cresceu 0,7% e 1,5%, respectivamente.

Draghi aproveitou a “deixa” para ressaltar que, desde aquele discurso em 2012, importantes reformas foram feitas – algo que contribuiu para fortalecer e complementar a união monetária da Zona do Euro. Claro que é preciso aprofundá-las, mas é inquestionável que a conjuntura mudou, para melhor. O crescimento voltou, e foi atingida a chamada “estabilidade de preços”. Parte disto é “culpa” do ECB, que adotou medidas não-convencionais desde a crise de 2007 (ao colocar os juros de curto prazo num patamar negativo, e ao comprar títulos públicos e privados de modo a reduzir os juros mais “longos”, por exemplo).

E sobre a reunião de hoje?

O ECB manteve as taxas de juros inalteradas, em linha com o esperado pelo mercado. O Forward Guidance – ou seja, o conjunto de sinalizações para o futuro – também foi mantido: estas taxas devem continuar estáveis ao menos até o “verão de 2019”. Ou seja: no mínimo, teremos mais 12 meses de juros baixíssimos (o ECB, de forma proposital, não especifica uma data exata). A compra de ativos mensais – o chamado “Quantitative Easing” – passará dos atuais 30 bilhões de euros para 15 bilhões, a partir do final de setembro. As compras serão interrompidas no final do ano, e não devem continuar a partir de 2019. O já “inchado” balanço de ativos do ECB, hoje em 4,6 trilhões de euros, tende a continuar em patamar elevado, dado que a instituição se compromete a reinvestir aquilo que começar a vencer, por um período prolongado de tempo.

Dito de outra forma: Draghi, sem surpreender aos investidores, sinaliza que estamos cada vez mais próximos da chamada “normalização” da política monetária. O processo será gradual, mas tudo indica que os juros subirão num futuro, que o balanço de ativos da instituição deixará de crescer e, com isso, que a liquidez internacional continuará a diminuir. Hoje, o mercado espera que a próxima elevação de juros acontecerá no 2º semestre de 2019 (o 3º tri é o mais provável hoje). Difícil vir antes disto. E igualmente difícil, em nossa opinião, imaginar que os juros seguirão intactos considerando um horizonte de 18-24 meses.

Registre-se: a taxa de depósitos (referência para os depósitos dos bancos no overnight), desde março de 2016, segue em -0,4% ao ano. A última vez que esta taxa foi elevada? Julho de 2011.

Além de ter destacado a força recente da economia da Zona do Euro, Draghi, logo no início de sua fala, ressaltou as incertezas relacionadas ao comércio global. Sem citar Donald Trump, a referência a ele era evidente. Talvez seja este o maior dos riscos globais. Mesmo assim, considerando o ritmo de crescimento da região, Draghi acredita que estes estejam “balanceados”. É neste contexto que o ECB mantém a perspectiva de “normalização” das políticas, fazendo o clássico disclaimer que tudo pode ser ajustado, a depender do cenário. Numa das respostas aos jornalistas, disse que as palavras “prudência, paciência, e persistência” ainda inspiram as decisões do ECB.

E os mercados com isso?

A habilidade de comunicação de Draghi é inquestionável. Os mercados, após a reunião, mantiveram os movimentos recentes. O euro continuou a se enfraquecer frente ao dólar (já acumula queda de aproximados 3% em 2018); e as bolsas mantiveram o movimento de alta nesta sessão (o índice Stoxx 600 subiu quase 0,9%). Para quem é investidor brasileiro, vale lembrar que, nos próximos anos, a liquidez internacional deve diminuir. Tudo mais constante, isto tende a dificultar a manutenção da Selic em níveis tão baixos (especialmente a partir do 2º semestre de 2019) e a tornar o investidor estrangeiro mais seletivo. Estão contados os dias de financiamento tão barato, fácil e abundante para os emergentes.

 

 

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