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Mercados por TradingView

O Homem mais chato de Washington – E as razões para ler, escutar e refletir sobre tudo aquilo que ele pensa

1 de março de 2018
Escrito por Ignacio Crespo
Tempo de leitura: 3 min
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Segundo uma matéria da Bloomberg, divulgada em janeiro deste ano, Jay Powell, o atual presidente do Fed (Federal Reserve – Banco central americano), seria “o Homem mais chato de Washington”.

A despeito de seus vários anos de experiência dentro do próprio banco central dos EUA como diretor, a escolha de Trump para suceder Janet Yellen ainda é vista com certo receio por parte dos economistas. Afinal, Powell tem um background diferente: advogado, com passagens pelo setor privado, não é PhD em Economia e pode não ter as mesmas “sacadas” que outros tiveram no passado recente.

Alan Greenspan, nos anos 90, percebeu uma “mudança estrutural”: a produtividade estava acelerando, e ajustou a política monetária a isto. Chefiado por Ben Bernanke – alguém que tinha conhecimento amplo sobre a Grande Depressão –, o Fed decidiu, pós crise financeira, adotar estímulos até ali não adotados: o quantitative easing. Por fim, sob o comando de Janet Yellen, notou-se outra “mudança estrutural”: a queda da chamada “taxa de juros neutra”. Neste caso, a despeito das baixas taxas de juros ainda adotadas, o Fed não estaria sendo tão “expansionista” assim. Foram decisões acertadas que o Fed tomou nos últimos anos.

No atual momento, um dos desafios de Jay Powell é encontrar um equilíbrio entre promover um maior crescimento econômico e, ao mesmo tempo, ser sustentável. Se o Fed mantém juros baixos por mais tempo, investidores podem tomar riscos em excesso e preços de ativos podem atingir patamares que comprometam a sustentabilidade financeira. Se, por outro lado, o Fed subir os juros antes do ponto, ótimo, o risco é a economia desacelerar e a meta de inflação não ser atingida.

Nesta semana, todos estavam atentos às palavras de Powell. Afinal, foi à Câmara e ao Senado falar sobre a economia dos EUA e também respondeu às perguntas de congressistas. Este é, tradicionalmente, um momento importante que costuma gerar impactos nos mercados e são aproveitados para dar sinalizações sobre o futuro da política monetária. Vale lembrar que o Banco Central lá, diferente daqui, tem duas metas: buscar o “pleno emprego” e manter a estabilidade de preços.

Segundo Powell, a economia americana tem crescido num “ritmo sólido” desde a segunda metade de 2017 até hoje. De julho a dezembro, a média de criação de empregos ficou em 179 mil/mês – suficiente para levar a taxa de desemprego a 4,1%. Mais impressionante do que observar esta taxa baixa, é perceber que, considerando os trabalhadores com diploma (ou seja, os de maior nível educacional), esta taxa passou de 5% para meros 2%, no mesmo período da análise.

A inflação segue abaixo da meta de 2% do Fed (sua medida está em 1,5%) e Powell considera que a razão para isto são “fatores transitórios”, que não devem se repetir à frente. Diante de uma “política fiscal que está se tornando mais estimulante” (referência à reforma tributária de Trump), e uma demanda estrangeira mais forte pelas exportações do país, considera que a inflação continuará a subir. Isto, é claro, acompanhado de salários mais altos dos trabalhadores. Algo que começamos a ver de forma mais clara em janeiro deste ano; e que comentei recentemente num outro texto deste blog, “Uma nova realidade (americana)”.

E daí?

Bem, chegamos ao ponto central deste texto: Powell, ao fazer uma análise bastante positiva da economia dos EUA, sinaliza que a “normalização” da política monetária continuará nos próximos trimestres. Mais: em nossa opinião, reforça a possibilidade de o mercado se surpreender com a futura elevação de juros por lá. Afinal, muitos investidores ainda seguem céticos quanto às 3 altas de juros “prometidas” pelo Fed para este ano.

Não vemos este ajuste da política monetária dos EUA como algo que comprometerá a “saúde” da economia, mas certamente será algo que trará maior volatilidade aos mercados. Resta saber se Powell seguirá o caminho que esperamos, e que até aqui vem sendo sinalizado, embora parte do mercado ainda não acredite. O risco maior? Ele deixar de ser o “chato” de Washington e surpreender a todos — incluindo a nós, claro — com alguma “sacada” que, até agora, ninguém espera dele.

Registre-se: em dezembro do ano passado, a probabilidade do Fed subir 4 vezes os juros em 2018, segundo o mercado, era de aproximados 5%. Hoje, subiu para algo mais próximo de 35%. 

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