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Mercados por TradingView

Embraer + Boeing: Nem brasileira, nem americana, mas global

11 de julho de 2018
Escrito por Victor Candido
Tempo de leitura: 4 min
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Na semana passada foi marcado um dos casamentos mais esperados do ano, e olha que nem é o casamento real, e sim a junção de Boeing e Embraer. O anúncio, em forma de um memorando de intenções, especifica uma joint-venture entre as duas empresas, onde a Boeing será a acionista principal, além de uma outra joint-venture, menor, de defesa, onde a Embraer será a controladora. Ao fim do processo sairá uma nova companhia: enorme e global.

O anúncio mal saiu e os acionistas da Embraer acharam que o acordo era ruim, o sindicato de funcionários também reclamou e os fornecedores nacionais da Embraer, também. Choradeira generalizada. Todos, exceto os acionistas, usaram o argumento de defesa da soberania da tecnologia nacional: todos chorando o leite derramado de um acordo que acontecerá.

Não discutirei o argumento dos acionistas, até porque essa é uma questão técnica, financeira. Se existe mais valor embutido na Embraer do que a negociação com a Boeing reflete, então é justo que os acionistas da companhia brasileira ganhem mais alguns dólares por suas ações.

A centenária empresa fundada por William Boeing em Seattle, praticamente inventou a aviação comercial como conhecemos hoje. O primeiro avião comercial, com piloto automático, cabine aquecida e atendimento de aeromoças foi uma invenção da Boeing, depois copiada pelo seu maior rival da época, a Douglas Aircraft (mais tarde absorvida pela Boeing na compra da McDonnell Douglas). Além de ter emplacado grandes sucessos de venda na linha de jatos médios e grandes. É impossível não associar a marca Boeing com jatos comerciais.

A Embraer nasceu nos anos 60, quando a Boeing já era líder nos grandes jatos. Após anos pingando de projeto em projeto, alguns bem-sucedidos e outros não, a Embraer encontrou seu nicho nos jatos regionais. Emplacou grandes sucessos, como ERJ-135 e o 145, e vendeu centenas de unidades, o primeiro mais tarde ganharia uma variante executiva que seria denominado Legacy, colocando a Embraer em outro nicho o de aviação executiva. Tudo isso colocou a brasileira como a terceira maior fabricante de aeronaves do mundo.

O negócio

O casamento de ambas faz muito sentido, não são competidores diretas. E funcionaria como uma resposta ao casamento recente de Airbus e Bombardier, a primeira competidora direta da Boeing, onde dividem o mercado global de jatos médios e grandes, a segunda é competidora direta da Embraer em jatos regionais e executivos. Logo a joint-venture nada mais é que uma resposta ao movimento de Airbus e Bombardier. Tanto a Boeing, quanto a Embraer precisam disso.

Quanto ao argumento de que a nova empresa colocaria em risco a soberania nacional, é importante dizer que a Embraer não compra nenhum componente de alto valor agregado tecnológico no Brasil. Os motores e aviônica (eletrônica complexa dos jatos) não são produzidas no Brasil e nem pela Embraer. Tudo é comprado de fornecedores lá fora, a grande maioria nos Estados Unidos e Canadá. A Boeing também não produz esses componentes, também os compra dos mesmos fornecedores da Embraer. Aliás, essa é uma das grandes vantagens da Embraer, ela é uma empresa integrada na cadeia global de valor, ela não produz tudo que precisa, e sim compra de quem faz melhor e mais barato, um exemplo raro no capitalismo brasileiro.

A brasileira

Logo, a Embraer não é uma empresa brasileira, ela é global. Inclusive possui fábricas no exterior. O valor agregado da Embraer vem da inteligência de seus engenheiros e do conhecimento acumulado em toda a sua história. Conhecimento que não irá embora com a Boeing. Outro ponto que está sendo esquecido, é o fato de que o conhecimento da Boeing também irá fluir para a Embraer.

Também dizer que os empregos serão tirados do Brasil, como afirma o sindicato dos funcionários da Embraer, é uma estupidez, uma vez que a principal fábrica é aqui no Brasil, e desmontá-la para montar uma nova em qualquer outro lugar, seria de uma enorme irracionalidade.

O mercado de aviação comercial é extremamente complexo, e envolve uma série de efeitos de rede. As empresas escolhem o avião que é mais utilizado no tipo de mercado que operam, pois é mais fácil de dar manutenção, treinar pilotos e afins. Uma vez escolhido o modelo, a empresa dificilmente irá trocar de marca. Por isso, empresas que usam Boeing só usam Boeing por décadas, ninguém troca de Boeing para Airbus de um ano para outro e vice-versa.

Além da venda da aeronave em si, é vendido, também, o suporte que inclui peças, treinamento de pilotos e manutenção. Logo com a joint-venture, a Boeing poderá oferecer a seus clientes jatos menores da Embraer que também irão se aproveitar da rede de suporte e manutenção da Boeing, e também clientes da Embraer poderão acessar aviões da Boeing de forma mais simples.

O fato é que, com a junção da Airbus com a Bombardier, a Embraer ficou em uma posição complicada. Seu principal rival ganhou a força de um dos maiores produtores de aviões do mundo, o que certamente desequilibraria a balança para o lado da Bombardier. A Boeing não gostou nada do movimento da Airbus e rapidamente buscou a mesma solução, se juntar a quem sabe fazer, com maestria, aviões menores.

Ao mesmo tempo que a Embraer retoma o combate com a Bombardier, agora com força igual ou até maior, criando uma empresa que não é nem brasileira, nem americana, mas sim global.

 

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