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Mercados por TradingView

Caso Facebook: reputação importa, e muito

28 de março de 2018
Escrito por Hugo Paixão
Tempo de leitura: 5 min
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A vida pode ser trágica e cômica ao mesmo tempo. Use o último ano de Mark Zuckerberg, atual CEO e acionista controlador do Facebook Inc, como exemplo. No ano passado, o líder da corporação era postulado como um dos possíveis presidenciáveis das eleições americanas de 2020, o crescimento de sua companhia parecia inabalável e, ainda, a máxima atingida de 193 dólares por ação no início deste ano foi vista como a cereja do bolo do sucesso. Hoje, Zuckerberg luta para mostrar que é capaz de manter a confiança dos 2,1 bilhões de usuários da oitava maior companhia aberta do mundo.

COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI?

Nos últimos dias, você deve ter ouvido falar muito de uma tal de Cambridge Analytica (CA). Pois bem, as reportagens nos principais veículos de notícia americanos fizeram desta a empresa mais conhecida pelo mundo.

Em resumo, a CA é uma empresa que prestou serviços de informações estatísticas para campanha presidencial de Donald Trump em 2016 e utilizou nesta campanha dados de nada menos que 50 milhões de usuários do Facebook nos EUA. Dados utilizados de maneira dúbia e muito provavelmente ilegal.

Outro fator que fez piorar a situação, foi o posicionamento do Facebook, ou melhor, a demora e a maneira como foi feito este posicionamento.

Zuckerberg demorou cinco dias para responder e na resposta admitiu que a empresa decepcionou seus usuários no passado, mas ao mesmo tempo ignorou o fato de sua empresa estar passando por uma imensa crise de confiança.

Este momento de preocupação dos investidores do Facebook, não deve ser apenas resumido no evento recente de vazamento de informações pela CA.

O assunto já é antigo. Alguns exemplos: envolvimento de representantes do governo da Rússia nas eleições americanas de 2016 e as crises causadas mundo a fora pelas fake news também parecem estar refletidas na crise atual.

Desde o dia do estouro da crise em 16 de março deste ano até o momento em que este artigo foi escrito, a ação do Facebook na Nasdaq já caiu aproximadamente 15,45%.

Parece que os consumidores estão se dando conta dos perigos de ter suas informações privadas sendo manuseadas por motivos obscuros para manipular acontecimentos importantes, como a escolha de líderes de países.

Uma prova que corrobora para esta conclusão é que o think-tank Pew Research Center, em pesquisa recente, revelou que a maioria dos americanos não confia em mídias sociais para proteger dados pessoais.

QUAIS AS PREOCUPAÇÕES PARA O NEGÓCIO DO FACEBOOK?

O modelo de negócios da multinacional está baseado em três pilares principais: manutenção do elevado fluxo de usuários na plataforma, coletar dados pessoais e comportamentais de seus usuários e convencer anunciantes a pagar muito dinheiro para alcançar estes usuários de forma mais personalizada.

Perceba que se trata de um negócio intensamente baseado em uma relação de confiança mútua: usuário-plataforma-anunciante. O que a recente crise deste mês de março fez, foi justamente abalar esta importantíssima relação de confiança.

Para ter uma noção do peso do fator credibilidade neste modelo, entenda que estamos falando de uma empresa que vale aproximadamente 450 bilhões de dólares, em que destes, apenas 14 bilhões representam ativos físicos.

Resumindo: é uma companhia intensa em capital intelectual com um valor intangível. Acredita-se que a marca vale muito, e, a partir do momento que essa crença não se confirma, este valor astronômico pode vir a ser efêmero.

Devemos somar a esta quebra de confiança alguns fatores que mostram um prognóstico um pouco pior para empresa: 1) a base de usuários da rede social nos EUA está estagnada em temos de crescimento desde junho de 2017; 2) o market share da empresa no ambiente de mídias digitais nos EUA caiu pela primeira vez na história neste ano de 2018.

Vale ressaltar também que os famosos efeitos positivos de rede, tão essenciais para o crescimento e maior eficiência da rede social, podem se mostrar perversos em um processo de diminuição ou saída de usuários.

UM NOVO FACEBOOK

Buscando conter o estrago, oficialmente o Facebook afirmou que o evento recente de vazamento de informações será impossível de ocorrer novamente e frisou a culpa da CA na quebra das regras de confidencialidade dos usuários.

Um dos grandes erros da empresa foi ter conhecido o vazamento ainda em 2015 e não ter avisado aos usuários envolvidos de forma individualizada. Com isso, a corporação acabou guardando uma informação importantíssima por quase três anos. Faltou transparência.

Entendida a dimensão do estrago, é chegado o momento de refletir, digo isso à empresa, seus usuários, anunciantes e acionistas.

A companhia precisa reconstruir sua confiança por meio de ações específicas, transparentes e rápidas.

Algumas boas ideias são: auditar interna e externamente seus serviços e aplicativos, restringir o acesso a dados pessoais dos usuários por desenvolvedores, anunciantes e outros parceiros comerciais, educar os usuários sobre a importância de proteger sua privacidade, ensinando estes a controlar quais aplicativos externos podem ter acesso às suas informações.

De forma alguma pretendo desacreditar em uma empresa que se mostrou consistentemente uma enorme geradora de valor ao longo de muitos anos.

Acredito que seja apenas uma crise de curto prazo e que não vá prejudicar definitivamente o negócio, pelo contrário, acredito que seja uma excelente oportunidade de resolver o problema de maneira coletiva e transparente.

As ações do Facebook estão sentindo o peso da desconfiança. É a vez da companhia que ficou famosa por monetizar modelos de negócio considerados improváveis de gerar valor, se reinventar novamente e reconquistar de vez a confiança de seus 2 bilhões de clientes.

É na crise de hoje que enxergamos o crescimento de amanhã.

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