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Mercados por TradingView

Bancos comunitários – Uma boa (porém concentrada) ideia

17 de maio de 2018
Escrito por Terraco Econômico
Tempo de leitura: 3 min
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Uma nota de dinheiro fictícia com algumas moedas e outras notas ao fundo

Uma das maiores favelas do Brasil, a Paraisópolis, vai ganhar em breve um banco (um mini banco central) que emite moeda para uso exclusivo na própria comunidade. Essa ideia não é nova no Brasil: o primeiro projeto data de 1998, com o chamado Banco Palmas, da favela de Palmeiras, em Fortaleza; tampouco a ideia é nova no mundo: o prêmio Nobel de Economia de 2006 foi para Mudammad Yunus, criador de um banco de microcrédito na Índia que se utiliza deste modelo de ter a sua própria moeda.

A ideia é positiva e possui uma lógica econômica atrelada a ela, mas tem seus prós e contras. Pelo lado positivo, vemos que se cria um incentivo positivo ao desenvolvimento interno das regiões que se utilizam deste modelo. Além do fato da moeda criada ser de circulação válida apenas no território pré-determinado, geralmente o foco de atuação é o de emprestar recursos aos moradores e, como contrapartida dos pagamentos dos empréstimos, muitos projetos da região tendem a ser beneficiados. Um verdadeiro ciclo virtuoso pode ser iniciar.

Diante dessa regionalização, a promoção de um desenvolvimento mais focalizado pode fazer com que a região fique mais resistente a problemas socioeconômicos que a cerquem em comunidades próximas. O acompanhamento mais direto que se tem com a proximidade da tomada de decisões dos bancos – sabe-se mais diretamente a quem se vai emprestar, sua capacidade de pagamento e o quanto essa pessoa pode contribuir para a comunidade – é um fator de fortalecimento do sistema.

Por último, mas não menos importante, temos a ampliação dos meios de pagamentos dos negócios da comunidade. Saindo do papel moeda e entrando em meios diretos de financiamento, ou mesmo de pagamentos em si (esses bancos comunitários costumam ter seus próprios cartões de crédito interno), a própria violência se reduz: no caso da pequena cidade de São João do Arraial, no Piauí, registra-se um nível consideravelmente inferior de violência em comparação aos municípios da mesma região. 

Como nem tudo são flores, temos também o lado negativo. Justamente devido a essa centralização, temos que o desenvolvimento possível alcança um limite dentro das possibilidades daquela região. O retorno existe e é crescente, mas, num limite em que esgotam-se todas as possibilidades de melhoria, o contínuo desenvolvimento cessa. Na prática, isso pode significar que os ganhos obtidos com essa prática sirvam para, no longo prazo, manterem as pessoas em situação econômica e social melhor do que seria sem tal estrutura, mas pior do que poderia ser, caso tivesse a possibilidade de crescer e se desenvolver ainda mais amplamente.

Outro problema, também derivado da focalização na região, é o fato de que assim deixa-se de aproveitar uma gama de oportunidades advindas do mercado fora da comunidade. Com isso, das duas, uma: ou o crescimento e desenvolvimento estarão fadados a um limite que uma hora irá desestimular a continuidade do sistema, ou aos poucos a integração das benesses internas com o “mundo fora da comunidade” acabará por assim dissolver o sistema montado internamente.

E emergem problemas práticos da utilização de dinheiro próprio, como a segurança contra falsificações, o problema de a moeda não ser digital e poder ser roubada facilmente, além, claro, do fato de que se o processo não for bem coordenado e houver emissão de dinheiro demais, a inflação irá acontecer nessa moeda, e, com isso, as pessoas irão naturalmente abandoná-la e retornar para a moeda forte – no caso, o próprio real do nosso dia-a-dia.

Na prática é difícil afirmar que o lado negativo supere o positivo, dadas as experiências bem sucedidas e duradouras que podemos observar no Brasil. Hoje, com apoio do BNDES para a gestão dos fundos e amparo legal da Secretaria de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, tais iniciativas oferecem uma estruturação maior em termos financeiros por onde passam e se instalam.

Entretanto, seria ainda melhor se as comunidades pudessem, entre si, realizar uma troca de ganhos através do mercado. A complexidade disso envolveria, por exemplo, a necessidade de se avaliarem os câmbios paralelos entre as moedas criadas. Se os bancos centrais do mundo todo já temem a descentralização através das criptomoedas, imagine através de diferentes e pequenas unidades regionais de “bancos centrais”.

Em suma: trata-se de uma elogiável ideia, porém esta que é limitada regionalmente e em ganhos.

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