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A racionalidade de um prêmio para a irracionalidade: O Nobel de Richard Thaler

1 de novembro de 2017
Escrito por Terraco Econômico
Tempo de leitura: 3 min
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Richard H. Thaler, professor da Universidade de Chicago, especialista em economia comportamental, foi o escolhido pelo Banco Central da Suécia para receber o prêmio Nobel de Economia de 2017.

A escolha demonstra que o comitê decidiu abraçar de vez as ideias que vão contra os pilares fundamentais da torre de marfim da convencional teoria econômica.

A teoria econômica diz que os indivíduos são extremamente racionais, capazes de computar toda a informação disponível sempre que forem realizar uma transação. É o princípio da racionalidade completa, o principal pilar que sustenta a tradicional teoria econômica. A partir deste princípio, se constroem os modelos que explicam os mais diversos fenômenos econômicos.

Na teoria convencional, os indivíduos são extremamente racionais, suas cabeças possuem a potência de um supercomputador IBM, capazes de calcular com exatidão os custos e benefícios de cada transação, são o Homoeconomicus.. Obviamente, somos incapazes de tamanha otimalidade em nosso pensamento.

Para Thaler, os agentes econômicos fazem escolhas inconsistentes, com pouca informação e até mesmo escolhas preguiçosas (prefiro comer um pacote de Doritos a cozinhar uma refeição saudável). Além disso, os indivíduos são pouco capazes de resistirem às tentações de hoje (comer um chocolate), o que impacta em colherem os benefícios futuros (ter alguns quilos a menos).

Outro flanco da teoria convencional que Thaler ataca é a utilidade das transações. A teoria normal nos diz que só faremos uma transação, após computar toda a informação, se ela nos trazer alguma utilidade. Mas não é só a utilidade que está em jogo em uma transação, existe o fator psicológico.

Ficamos extremamente felizes quando conseguimos um desconto, acreditamos que estamos fazendo um bom negócio e isso nos traz satisfação. Da mesma forma que quando pagamos a mais por algo, nos sentimos roubados, tristes. Essas sensações podem gerar resultados completamente diferentes daqueles prescritos pela teoria convencional.

Em seu primeiro livro de divulgação científica, Nudge (empurrar), um best-seller do New York Times, Thaler explica que uma simples mudança na disposição dos alimentos nos refeitórios das escolas americanas, alterou em até 25% o consumo de alguns tipos de alimentos. Assim, a escola poderia empurrar seus alunos a comerem mais cenouras do que batata-fritas. Os alunos não foram informados da intenção da mudança, ou seja, acreditavam estar tomando decisões racionais sobre o que comeriam.

O contexto de onde as decisões são tomadas importam muito, pois pode colocar a racionalidade em segundo plano.

Thaler não é o primeiro acadêmico a receber um prêmio Nobel por teorias que vão contra a convencional teoria econômica, um de seus professores, Daniel Kahneman, foi o primeiro, em 2002. Kahneman também fez importantes descobertas sobre como o inconsciente afeta escolhas e seus insights foram timidamente incorporados pela teoria convencional.

Outro vencedor foi Robert Shiller, autor da icônica expressão “Exuberância Irracional”, que descreveu a bolha do mercado acionário no final dos anos 90. Para Shiller, bolhas em preços de ativos eram um claro sinal de irracionalidade, situação que desencadeou na crise de 2008. Pouco ou quase nada do trabalho de Shiller foi incorporado nos modelos dos grandes players financeiros.

O grande problema é que a chamada teoria econômica, pouco incorporou as descobertas feitas por Kahneman, Shiller e Thaler. Os economistas – o autor deste texto incluído – sempre saem pela tangente dizendo que as recomendações da economia comportamental não podem ser incluídas, pois não são dedutíveis a partir de alguns axiomas básicos (regras como a da racionalidade completa, que regem o comportamento dos indivíduos), logo, é impossível de se criar um modelo matemático fechado e completo que descreve com fidelidade a situação.

Resta saber se a impossibilidade metodológica de incorporação é uma realidade ou uma desculpa para proteger a amada teoria.

É bastante provável que o Nobel deste ano seja um sinal de Estocolmo, racionalmente calculado, de que a ciência econômica precisa ser mais aberta com as novas descobertas, mesmo que elas signifiquem uma completa reconstrução da torre de marfim onde habita a tradicional teoria econômica.

[IN-CONTENT] ABRA SUA CONTA [NOVO] - NORMAL - END
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