Introdução: O dólar recua no exterior, e os juros de 10 anos voltam a oscilar mais próximos de 3,0%. O mercado digere a ata do Fed: os juros devem subir em junho (a 2ª vez neste ano!), e a inflação deve ficar acima da meta de 2,0% muito em breve (o Fed insiste em falar que a meta é “simétrica”). As bolsas da Europa operam sem direções claras. No Brasil, pressões sobre governo e Petrobras são destaque. Após redução de impostos, estima-se um custo fiscal significativo e não está claro até quando o governo irá ceder. É ponto de preocupação. Do lado mais positivo, a inflação segue baixa. Ainda não vemos alívio nos mercados locais.

CENÁRIO EXTERNO: MERCADO DIGERE SINALIZAÇÕES DO FED.

O “básico” sobre os mercados… O dólar recua frente a seus principais pares, enquanto os juros de 10 anos nos EUA oscilam ao redor de 2,99%. As bolsas da Europa operam mista, mas tentam manter-se acima da estabilidade, após sessão de quedas no Japão e na China. Nos EUA, S&P futuro registra leve queda. As commodities também estão mistas. O petróleo (brent ) recua mais de 1%, cotado na casa de US$78/barril; enquanto o minério de ferro subiu 3,54% na China, cotado a US$66,38/tonelada. O índice VIX sobe pouco mais de 2%, ao redor das 9h, horário de Brasília.

Ata do Fed: alta de juros “em breve”… O documento do Fed reporta que a economia deve continuar a crescer acima do seu potencial. Neste ambiente, sinaliza que os juros subirão “em breve”. O mercado precifica que os juros subirão na reunião de junho (dias 12 e 13), de 1,50-1,75% para 1,75-2,00%. Segundo o Fed, a inflação pode ficar por um tempo acima da meta de 2,0% (a meta é “simétrica”), e vê a recente elevação de preços do petróleo como um impacto direto (altista). Quanto às incertezas em relação às projeções de atividade e inflação, ressaltou a política comercial de Trump.

Sobre a inclinação da curva de juros… Este foi um dos pontos comentados na ata do Fed. Segundo eles, este fenômeno está acontecendo por conta da elevação gradual de juros no curto prazo, a redução do prêmio de risco, programas de compra de ativos por outros bancos centrais, e uma redução nas estimativas da taxa de juros real de longo prazo por parte dos investidores. Embora “alguns” membros tenham notado que a inclinação da curva de juros é uma medida hoje menos crível para prever recessões futuras, “muitos” membros acreditam que é importante monitorá-la, dada a regularidade histórica na antecipação destes eventos. Sobre este assunto, veja o texto em nosso blog: “Uma nova recessão americana?”.

Na agenda de hoje… Nos EUA, os destaques são: (1) pedidos de auxílio desemprego (9h30); (2) vendas de moradias usadas (11h); e (3) sondagem industrial Kansas City. Além disso, 2 discursos do Fed: (i) R. Bostic, do Fed de Dallas (11h35) e (ii) P. Harker, do Fed de Filadélfia (15h).

BRASIL: PETRO CEDE, E CUSTO FISCAL AUMENTA.

Petro cede, insatisfações continuam… Entra em vigor hoje uma redução em 10% do preço do diesel, anunciada pela Petrobras como “contribuição para a construção desse ambiente de trégua”. O novo preço ficará congelado por 15 dias. A partir daí, a empresa retomará gradualmente sua política de preços, aprovada em junho de 2017. A Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), a despeito da decisão da empresa, manteve ontem as paralisações.

Conversas continuam… Uma nova reunião será realizada entre a Abcam e o governo, na tarde de hoje (14h). Antes disso, Temer reúne-se com os ministros Eduardo Guardia (Fazenda), Moreira Franco (Minas e Energia) e Valter Casimiro (Transportes); Pedro Parente, presidente da Petrobras; e Jorge Rachid, secretário da Receita Federal. No Planalto, agora pela manhã (8h45).

Pedro na Petro? Na mídia, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, tem sido bastante criticado pelos recentes reajustes de preços. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), atual vice-presidente do Senado, pede publicamente a sua cabeça, segundo o Poder360. O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), disse que irá convidar Parente para se explicar no Congresso.

“Moeda de troca” avança… Em meio à crise, a Câmara aprovou o projeto de reoneração da folha de pagamentos (Projeto de Lei 8456/17). Também isenta o óleo diesel das alíquotas do PIS e da Cofins até 31 de dezembro deste ano. Agora, a matéria segue para o Senado. Outro ponto que vale registrar: diante da zeragem da Cide, e considerando que parcela do imposto era repassada a Estados e municípios, alguns governadores e políticos locais começaram a se articular, exigindo compensações do Planalto.

Sobre a reoneração… Dos 56 setores beneficiados, 28 setores passarão a pagar a contribuição previdenciária de 20% sobre a folha em 90 dias após a sanção presidencial. Os demais setores serão taxados em sua folha de pagamentos a partir de janeiro de 2021. Segundo cálculos da Fazenda, a reoneração da folha, que levará 90 dias para entrar em vigor, deve levar a uma arrecadação de R$1,5 bi neste ano.

Sobre o custo da redução de PIS-Cofins sobre diesel… Isto é algo que trará um impacto fiscal significativo. No ano, o custo deve ficar entre R$12-14 bi. Incialmente, segundo informações ventiladas há pouco, o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM) havia sido informado que o custo ficaria apenas em R$3,5 bi. Agora, esta questão terá que ser equacionada no Senado.

O clima não está bom para o “centro”… Neste ambiente de insatisfação crescente, parece-nos que o clima para o chamado “centro” só piora. Apesar da formalização da pré-candidatura de Meirelles pelo MDB, e de um Alckmin (PSDB) que começa a se “mexer” um pouco mais, ainda vemos grande dificuldade destes personagens de ganhar tração no curto prazo. Por enquanto, são os “extremos” que se beneficiam, em nossa opinião. Na direita, Jair Bolsonaro. Na esquerda, Ciro Gomes.

E as pesquisas eleitorais? O Ibope realizará uma pesquisa para senador, governador e presidente, com abrangência no Estado de SP, apenas. A pesquisa será feita entre hoje e dia 28. A data de divulgação prevista é dia 28. A do Instituto Paraná, com abrangência no Estado de MG, deve ser divulgada hoje.

Uma inflação baixa… Aqui, boas notícias. O IPCA-15 de maio veio abaixo do esperado: 0,14% m/m, após 0,21% e aquém dos 0,26% previstos. Em 12 meses, passou de 2,80% para 2,70%, abaixo dos 2,82% projetados. O grupo de Serviços contribuiu para manter a inflação mais baixa. Para maio “fechado”, esperamos algo em torno de 0,25%. Do lado altista, reajustes de energia elétrica e gasolina, além de elevação sazonal de vestuário.

Agenda de hoje… No front macro, saem as contas externas de abril (10h30). Ilan Goldfajn (BC) participa de jantar do “20º Seminário Anual de Metas para a Inflação”, no RJ (às 19h30). O evento é amanhã.

E os mercados hoje? O viés é mais negativo, diante de preocupações com os rumos da Petrobras. Além disso, aumenta o custo fiscal por conta da redução dos preços dos combustíveis, mostrando um governo frágil e que pode continuar cedendo às pressões políticas. O viés para a bolsa é de baixa; e para DIs e dólar é de alta. O risco país (CDS de 5 anos) opera relativamente estável nesta manhã (por volta de 189 pontos base).

Ignacio Crespo – Economista

Sobre o fechamento do último pregão:

Ibovespa: -0,10%, aos 62.450 pontos;
Real/Dólar: +1,57%, cotado a R$3,2966;
Dólar Index: +0,10%, 96,808;
DI Jan/21: +4 pontos base, 10,60%;;
S&P 500: -0,12% aos 2.436 pontos.

Fonte: Bloomberg. Obs.: a taxa de câmbio utilizada é a referência da Bloomberg

EMPRESAS:

Braskem: LyondellBasell avalia Braskem em R$ 41,5 bi em oferta à Odebrecht
Impacto: Positivo.

Petrobras: Petrobras cede e reduz preço do diesel em 10%
Impacto: Negativo.

Luis Gustavo Pereira – Estrategista

Jornais:

Folha de São Paulo
– Governo, Câmara e Petrobras cedem à pressão de grevistas
– Leandro Colon: Caminhoneiros levam Temer à lona em três dias
– Condenado no mensalão tucano, Azeredo é preso
– Alckmin diz que acusação é absurda e nega caixa 2

O Estado de São Paulo
– Petrobras cede e reduz preço do diesel para conter greve
– Isenção de tributo passa na Câmara
– Camargo diz ter pago propina para receber indenização
– Docentes param em 37 escolas particulares

O Globo
– Petrobras cede e reduz preço do diesel em 10%
– Cota para mulheres divide os partidos
– Itália: populistas perto do poder
– Só 30% dos ônibus devem ir às ruas

Valor Econômico
– Sob pressão, Petrobras reduz o preço do diesel
– O outono do presidente Michel Temer
– LyondellBasell faz oferta pela Braskem
– Governo busca saída para Eletrobras

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