Introdução: A maior aversão a risco predomina no exterior, diante de retaliações comerciais entre EUA e China. O dólar se valoriza frente aos emergentes. As bolsas recuam. No Brasil, o destaque é o julgamento do HC de Lula no STF (a partir das 14h). Ventila-se um “caminho do meio”, com Lula fora da prisão, e fora da corrida eleitoral. Os mercados locais devem seguir o exterior, e a cautela por conta do front político doméstico.

CENÁRIO EXTERNO: A VOLTA DA AVERSÃO A RISCO.

O “básico” dos mercados… As bolsas recuam na Europa, após quedas na maioria dos mercados asiáticos. Nos EUA, S&P futuro também opera no vermelho. O dólar se valoriza frente aos emergentes, e commodities apresentam viés mais negativo. O brent cai à casa dos US$67/barril. Ouro e prata, exceções, operam em alta.

Mercados: movimentos de risk-off (again!)… Os mercados internacionais, após terem esboçado alguma recuperação no dia de ontem, voltam a registrar movimentos de maior aversão a risco. Os dados no front macro seguem positivos, mas a possibilidade de “guerra comercial”, e atenção especial ao setor tech, é algo que mantém investidores em alerta.

Guerra comercial – parte I… Após taxação de mais de 1,3 mil produtos chineses importados pelos EUA (de semicondutores a máquinas de lavar louça), avaliados em US$50 bi, a China respondeu à altura, e afirmou que taxará em 25% as importações de 106 produtos americanos, incluindo soja, carros, químicos e aviões, avaliados no mesmo montante. Note: a setor agro, que lhe rendeu muitos votos a Trump, parece ser um dos mais afetados.

Guerra comercial – parte II… As tarifas a estes mais de mil produtos chineses não entram em vigor de forma imediata. Aliás, podem ser revertidas caso a China faça concessões comerciais e de investimentos. Mais: as empresas americanas têm até dia 22 de maio para levantar objeções às tarifas, com uma audiência pública sobre a questão marcada para o dia 15 de maio.

“Nós não estamos em Guerra comercial com a China, esta foi perdida muitos anos atrás por pessoas idiotas, ou incompetentes, que representavam os EUA”, Donald Trump, via Twitter.

Fed: J. Williams, de mudança… O atual presidente do Fed de San Francisco, John Williams, substituirá o atual presidente do Fed de NY, Bill Dudley, que se aposenta no próximo dia 17 de junho. Dudley está nesse posto desde 2009. Williams é PhD por Stanford, e está no Fed há mais de 20 anos. Tem experiência e, agora, com poder de voto fixo nas decisões de política monetária, será peça ainda mais importante dentro do Fed.

Fed: mais substituições… O posto de vice-presidente do Fed, que ficou aberto após a saída de Stanley Fischer, no final do ano passado, deve ser preenchido por Richard Clarida, professor de Columbia, e conselheiro da PIMCO. Isto ainda não está confirmado.

SPOT(ify)… O serviço de streaming estreou na bolsa de valores de NY sob o código “SPOT”. O valor de cada ação foi de US$165,90. A empresa foi avaliada em US$29 bi, quase 5 vezes as receitas estimadas de 2018. Tornou-se o 3º maior IPO de tecnologia já lançado nos EUA, atrás de Facebook (2º) e Alibaba (1º).

Na agenda de hoje… Nos EUA, saem os dados de emprego formal, segundo ADP (9h15). Além disso: (1) índices sobre o setor de serviços em março, tanto PMI e ISM (10h45 e 11h, respectivamente); (2) encomendas à indústria (11h); e (3) estoques de petróleo bruto (11h30). Por último, 2 dirigentes do Fed fazem discurso hoje: (1) J. Bullard (10h45), e (2) L. Mester (12h).

MLK´s Day… Completam-se hoje os 50 anos do assassinato de Martin Luther King Jr., morto em Memphis, nos EUA. Lutou pelos direitos civis. Dele, lembramos a seguinte frase: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”. Vemos um paralelo com o cenário político do Brasil…

BRASIL: ATENÇÕES AO JULGAMENTO DO SUPREMO.

Dia de julgamento… A partir das 14h, começa a sessão no STF que julgará o habeas corpus (HC) de Lula. A ministra Rosa Weber – quem, muito provavelmente, definirá o placar final – deve ser a 3ª a votar, após o relator ministro Edson Fachin. Apurações apontam para uma vitória de Lula, por 6×5 – cenário que, desde ontem pela manhã, temos ventilado em nossos relatórios.

Pra resumir… O Supremo pode decidir pela liberdade de Lula (permitindo-lhe que recorre em liberdade), mesmo após a condenação em 2ª Instância. O voto de Rosa Weber é aquilo que deve definir o placar. Dado que os 11 ministros farão pronunciamentos de, no mínimo, meia hora, é provável que o julgamento seja interrompido, para conclusão apenas amanhã (5ª).

E se formos surpreendidos? Caso o HC não lhe seja concedido, Lula poderia ser preso no final deste mês ou em maio. Vale lembrar que à defesa do ex-presidente ainda lhe resta o pedido de “embargos dos embargos” – recurso que seria provavelmente negado pelo TRF-4, mas que lhe daria mais tempo a Lula, claro…

Mais uma vez, o “quem vota em quem”… Pró-Lula, devem votar hoje os ministros Celso de Mello, Dias Toffoli, Gilmar Mende, Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski e, neste caso que citamos acima, também Rosa Weber. Contra Lula, devem votar os ministros Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Luiz Fux e Roberto Barroso.

Ponderações importantes… A possibilidade de o ex-presidente Lula não ser preso, pós condenação em 2ª instância, não implica em uma possível candidatura sua à Presidência. Pelo contrário: é provável que Lula acabe fora da prisão, e também fora da corrida eleitoral.

Um “caminho do meio”… Hoje, no Valor, comenta-se que “Uma possibilidade seria a Corte adotar o caminho do meio, concedendo em parte o habeas corpus a Lula. A solução passaria por autorizar o cumprimento da pena antes do trânsito em julgado, mas só após a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), uma espécie de terceira instância”.

Sobre a corrida eleitoral… Joaquim Barbosa deve se filiar ao PSB nos próximos dias. Importante: pesquisas internas do partido, feitas via telefone, o colocam numa posição competitiva. Sem Lula, Barbosa empata com Bolsonaro, por exemplo. Isto, é claro, o aproxima de uma possível candidatura à frente.

“Não é fácil. Mas Joaquim Barbosa pode ser a onda que muita gente estava esperando para surfar”, Drive, editado por Fernando Rodrigues (04/abril).

Sobre a produção industrial… Em fevereiro, na comparação com janeiro, a produção cresceu 0,2%, após recuo de 2,2% no mês anterior. O mercado esperava crescimento de 0,6%. Frente a fevereiro de 2017, a produção avançou 2,8% — a 10ª taxa positiva seguida nesta comparação. Mas, ainda assim, ficou abaixo dos 3,9% esperados pelo mercado. A recuperação seguirá lenta. Para março, projeções inicias apontam crescimento de 0,5% m/m.

Sobre a venda de veículos… Segundo dados da Fenabrave, a venda de veículos para o mercado interno avançou 0,6% m/m em março. O resultado foi puxado por automóveis, que cresceram 0,8%. Na contramão, comerciais leves recuaram 1,8%. Em suma: uma recuperação lenta por aqui também. Espera-se maior tração ao longo dos próximos meses.

Na agenda de hoje… O grande destaque será o julgamento do HC de Lula, como falamos anteriormente. No front macro, sairá às 12h30 o fluxo cambial semanal, apenas.

E os mercados hoje? Em linha com o quadro externo mais negativo, e à espera de julgamento do Supremo, temos um viés mais negativo para os mercados locais, com bolsa em baixa e pressões de alta sobre dólar e DIs. A percepção de risco país, medida pelo CDS de 5 anos, já sobe pela manhã (+1,5%, aos 167 pontos base, ao redor das 9h, horário de Brasília).

Ignacio Crespo – Economista

Sobre o fechamento do último pregão:

Ibovespa: -0,05%, aos 84.623 pontos;
Real/Dólar: +0,84%, cotado a R$3,341;
Dólar Index: +0,16%, 90,200;
DI Jan/21: +06 pontos base, 8,080%;
S&P 500: +1,26% aos 2.614 pontos.

Fonte: Bloomberg. Obs.: a taxa de câmbio utilizada é a referência da Bloomberg

EMPRESAS:

BRF: Abilio fecha acordo e deixa a BRF.
Impacto: Marginalmente Positivo.

Petrobras: Petrobras põe mais três ativos à venda.
Impacto: Positivo.

Luis Gustavo Pereira – Estrategista

Jornais:

Folha de São Paulo
– Comandante do Exército diz que repudia a impunidade
– Congresso libera microempresa para negociar dívida tributária
– Depois de acordo com fundos, Abilio Diniz deve deixar o conselho da BRF
– Raquel Dodge: Executar sentença após 4 instâncias é exagero revisional

O Estado de São Paulo
– STF define futuro de Lula; chefe do Exército diz repudiar “impunidade”
– Vetos de Temer caem e podem custar R$ 13 bi
– Currículo do ensino médio deixa de ter conteúdo dividido por série
– São Paulo recebe 100 venezuelanos

O Globo
– Para Dodge, exagero de recursos “aniquila” Justiça
– Roubos têm pior patamar desde 1991
– Petróleo deve trazer US$ 100 bi
– Congresso dá alívio a ruralistas

Valor Econômico
– Lucros e receitas mais altos confirmam saída da crise
– Proteção ao trabalhador é cara e falha
– Apesar de pressão, STF pode favorecer Lula
– Abilio fecha acordo e deixa a BRF

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